segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O dia em que Nova Friburgo/RJ chorou.

O DIA EM QUE NOVA FRIBURGO/RJ CHOROU

Nunca pensei viver a apavorante experiência de uma tragédia natural, muito menos uma das maiores de todos os tempos do Brasil. Sempre achei que essas coisas só aconteciam em filmes de ficção, onde recursos tecnológicos e efeitos especiais nos fazem viajar pelos caminhos do pânico e pelas veredas do desespero. Aliás, nunca esses atalhos estiveram tão próximos, ou seja, nunca a ficção e a realidade foram tão difíceis de serem identificados.

Diferentemente dos filmes, o chiado da forte chuva que caía na madrugada de 12/01/2011 em Nova Friburgo – região serrana do Rio de Janeiro, bem como, o sons que às 6:00 horas da manhã (durante a madrugada, em alguns bairros) anunciavam os desmoronamentos de casas e prédios comerciais e residenciais não eram reproduzido em Studio, muito menos em cenários gigantescos e fictícios. Não! Eram assustadoramente reais e sem qualquer possibilidade de se tratar de um funesto pesadelo. Não obstante, nunca desejei tanto ter acordado de um pesadelo, mas infelizmente ou felizmente, não sei, sabia que era real, pois havia passado a madrugada acordado, olhando impotentemente o nível do rio, do alto de minha janela do terceiro andar, subir e a prenunciar uma grande e nefasta tragédia.

Nada ou ninguém era capaz de deter o ímpeto e a fúria da natureza, que parecia triste e furiosa com os constantes e insanos ataques que vem sofrendo ao longo da história.

O rio de lama que vorazmente navegava pelas ruas e avenidas da cidade, não pedia licença para invadir o alheio. Tudo lhe parecia seu e, assim, dava o destino que bem entendesse. Dessa forma, adentrava prédios, ainda que as portas e janelas não lhe fossem abertas ou autorizadas e cruelmente arrastava sonhos e pertences de quem sequer conhecia. Apavorante loucura!

Em pouco tempo constatei minha evidente fragilidade e impotência. Havia sido fantástica e sumariamente nocauteado pela força da natureza, sem que me fosse dado à esperança de acenar em busca de paz e trégua, ainda que com um pequeno recorte de pano branco. Pelo menos por algumas horas pensei estar definitivamente vencido. Sabia que a correnteza das águas, os escombros amontoados pela cidade, não escondia apenas corpos de pessoas amigas ou mesmos desconhecidas, mas sobretudo, sonhos e esperanças de muitos que, sequer, puderam ver realizados.

Após acomodar a dor e a tristeza que se instalou à despeito de minha vontade, não me restava alternativa senão buscar, em Deus, força para ajudar, de alguma forma, ainda que pouco ou quase nada, pessoas em piores condições que as minhas. Era hora de vencer nossos limites tão conhecidos e íntimos.

Os dias tornaram-se passado e, a cada amanhecer, nossa esperança e vigor, mais pujante. Pudemos sentir que não estávamos abandonados em meio aos destroços de um cenário de guerra. Não! Havia esperança! 

O semblante de cada voluntário refletia o amor de um povo empático e solidário. A cidade foi tomada por pessoas e ajudas vindas de todos os cantos do país. Fomos abastecidos não apenas por ajuda material, mas, principalmente, por ações humanas que nos levaram a entender a importância dos gestos de carinho em meio à dor, oriundos de uma palavra de ânimo e encorajamento, ou de um afago ou de um abraço. Enfim, pudemos entender a grandeza do altruísmo de pessoas que sequer conhecemos e que talvez jamais venhamos a vê-las novamente. 

Assim, nos resta viver a esperança de que o melhor ainda está por vir; de acreditar que o choro pode realmente durar uma noite, mas que a alegria vem pela manhã; de aprender que ainda que os infortúnios nos afastem dos nossos sonhos, eles jamais serão capazes de sucumbir nossa esperança. 

Celebremos, pois, a vida: nosso maior patrimônio!

1  Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. 2  Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; 3  ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam. 4  Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. 5  Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã. 6 Bramam nações, reinos se abalam; ele faz ouvir a sua voz, e a terra se dissolve. 7  O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. 8  Vinde, contemplai as obras do SENHOR, que assolações efetuou na terra. 9  Ele põe termo à guerra até aos confins do mundo, quebra o arco e despedaça a lança; queima os carros no fogo. 10  Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. 11  O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. (Salmos 46:1-11 RA)



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11 comentários:

Regina disse...

Olá Sylvio!Em primeiro lugar quero te dizer que partilho da sua dor ,assim como da de todos os moradores da região serrana do Rio.Sou do Rio, apesar de já morar em São Paulo por 30 anos,e fiquei extremamente arrazada com essa tragédia!Conheço a região serrana, é de tirar o fôlego de tão linda!Tenho a esperança de que se recupere o que foi destruído,e lamento muito pelas vidas perdidas.Agora, quanto ao seu texto,quero parabenizá-lo! Muito bem escrito.Estou seguindo suas notícias no diHITT.Abraços!!!

SeuLuiz disse...

Olá Sylvio,

Apesar de ter passado por isto, aqui em Blumenau, sempre fico chocado com estas tragédias. Não deveriam acontecer. Mas, infelizmente, com o descaso dos nossos governantes e com a falta de consciência da população, sabemos que mais cedo ou mais voltará a acontecer. Rezo e torço para que não aconteça.

Abraços!

Unknown disse...

Poxa Silvio,
é uma história lamentável, mas previsível,
mas ao longo dos anos, todos temos contribuido para a desolação do planeta.
Temos assistido a tudo de forma passiva, sempre acreditando que tais circunstâncias não seriam capaz de atingir-nos.
Infelizmente agora estamos recebendo o troco dado pelo planeta que agoniza e lastima ter que reagir perante a ação de seus filhos, que impiedosamente lhe causam tamanha degradação.
Agora somente nos resta a dura lição de que somos apenas frágeis seres humanos e que enquanto não criarmos um circulo de mútua consciência estaremos à mercê de tudo aquilo que provocamos com nossas próprias mãos.
É como se a Mãe Terra estivesse nos cobrando a humildade fazendo com que ao menos nos momentos de dor sejamos capaz de deixar o orgulho de lado e enxergarmos o quanto somos fracos e que somente com a união venceros os obstáculos.

F. Sales disse...

Caramba... ver isso de perto deve ter sido uma experiência marcante para uma mudança total de comportamento destas pessoas.

Como vc mesmo disse, devemos celebrar e ajudar a outros celebrarem o nosso maior patrimônio.

Sylvio estou seguindo seu blog. Muitas notícias interessantes. Se quiser dá uma passadinha no meu também:

http://corroborado.blogspot.com

Abraços.

-*Vera Luz*- disse...

Olá Sylvio!

Parabéns pela matéria bem redigida, mas, aqui falamos sobre o comportamento de nós, seres humanos, que vamos vivendo nossa vida envolta a materialidade sem dar importância a nossa natureza, e o pior, que é dessa que nos sustentamos, até chegar ao ponto de destruirmos tanto e essa não tem outra forma a não romper laços dessa forma, porque quando destruímos, inconscientemente ou conscientemente, estamos tirando a verdadeira firmeza diante da desordem e essa não onde se segurar, a não escorrer assim como aconteceu! Que possamos realmente nos dirigir com mais consciência e dar créditos ao próprio interior permitindo nosso desenvolvimento na forma humana, ligados com nossa responsabilidade diante de Deus que habita dentro de nós!

Um abraço,
"Todo o Conhecimento é Luz que Inspira a Alma" -*Vera Luz*-

Irismar Oliveira disse...

Sylvio lendo tua historia, você disse uma coisa: diante de tantas destruição voce se inclinou a buscar forças em Deus. Lembrei do salmo 46 - DEUS É NOSSA proteção e nossa força. Ele é aquela ajuda na qual se pode confiar no dia da angústia.
Por isso, não ficaremos perturbados, mesmo que o mundo seja destruído, mesmo que as montanhas desabem dentro do mar.Ficaremos tranqüilos, mesmo se houver grandes enchentes e terremotos tão fortes que façam tremer os montes mais altos.Há um rio que corre mansamente pela cidade de Deus, um rio que enche de alegria quem vive lá, o santo lugar onde vive o Grande Deus.
Deus mesmo vive ali. Por isso, apesar da confusão por toda parte, ela permanece tranqüila, guardada e protegida por Ele. Todos estamos sujeitos a situações difíceis na vida e a melhor coisa e buscar a Deus e sua força!! Uma boa tarde

Urban_store disse...

Olá, Sylvio! Primeiramente, quero parabenizá-lo pela excelente matéria, e dizer que estou partilhando da sua dor.
Eu tenho parentes que moram entre Petrópolis e Teresópolis.Segundo eles, foi terrível o que aconteceu. Parecia que o mundo estava se acabando. A fúria da natureza era incontrolável e nefasta. Ficamos impotentes, diante do desastre que, de repente, desabou sobre nós.
Abraços!

LISON COSTA disse...

Saudações!
Amigo Silvio:
A história é triste, comovente e registra de forma inequívoca o quanto somos pequenos. Eu desejo a você, aos seus familiares e a todas as vítimas da tragédia os meus mais sinceros votos de pronto restabelecimento coroado de muita saúde e paz. Vou ficar por aqui orando meu amigo por todos.
Abraços fraternos,
LISON COSTA.

BLOGZOOM disse...

Sylvio, os meus vizinhos de porta são de Friburgo, tem sitio lá, familiares lá. Os meus vizinhos a 2 andares abaixo tambem são, esses perderam parentes. E esses, apesar de todo horror vivido e que conseguiram fugir, são voluntarios. Toda semana, com a colaboração de todo o condominio, sobem para Friburgo levando donativos diversos. Esta semana ganharam um pequeno reboque, assim facilitou o transporte que já estava até perigoso para levar um pouco de cada pessoa que quer ajudar.

Segundo esses vizinhos, qq coisa usada, até rasgada, é bem vinda, pq o negocio é pior do que mostraram na TV.

Outra coisa, disseram que o numero de mortos é maior e especialmente de crianças.

Triste, muito triste.

Amigo, FORÇA! CORAGEM!

O pensador disse...

Amigo Sylvio. É perfeitamente compreensível que tenhamos momentos de desespero em situações como essa. Acredito que nada na vida é por acaso, mas realmente acredito que essas pessoas apesar de não possuírem recursos, não deveriam ter ido morar naquele local.

Acredito que desencarnes coletivos ocorrem quando um grupo de pessoas que moram próximas, ou estão próximas temporariamente (no caso de acidentes com avião, ônibus, trem, navio)ocorrem porque essas pessoas já cupriram as missões que foram designadas para elas.

Vi pela televisão o caso de um rapaz de aproximadamente 30 anos que estava na casa da sogra. Dormia no mesmo quarto ele e a esposa na mesma cama, seu bebê em um berço ao lado da cama e sua sogra em uma cama ao lado.

Segundos antes do deslizamento ele sentou na cama. O rapaz ouviu um grande barulho e de repente tudo veio abaixo.

Ao recobrar a consciência, ele percebeu que a esposa estava morta e com uma das pernas presa nele. A sogra também estava morta e seu bebê vivo.

Sinceramente acredito que se fosse a hora dele morrer ele teria desencarnado junto com a esposa, mas como (creio eu) ele ainda têm tarefas a cumprir ficou vivo. Como se pode explicar esse fato de forma científica?

Em janeiro de 2010 teve aquele terremoto no Haiti que matou mais de 200 mil pessoas.

Teve 1 homem que foi resgatado dos escombros com vida após 17 dias. Ninguém resiste 17 dias sem beber água. Sem comida conseguimos, mas sem água é impossível.

O homem relatou em entrevista que uma pessoa levava água e comida para ele todos os dias.
Como alguém de carne e osso poderia levar água e comida para ele se ele estava soterrada embaixo dos escombros?

São através destes fatos que na minha opinião podemos provar de forma categórica que desencarnes coletivos ocorrem para resgatar pessoas que cumpriram seu papel aqui na Terra e conforme vamos cumprindo com nosso dever vamos nos desligando do corpo carnal para vivermos na espiritualidade.

É isso o que eu acredito.

Parabéns pela postagem.

Thiago

Anônimo disse...

Parabéns meu amigo, infelizmente vivemos momentos horríveis e agora estamos passando pela sequelas, que são muitas. Como você mesmo disse, Deus está no comando de tudo. Esperamos que o poder público tome todas as providências necessárias para que a nossa cidade volte a ser uma cidade linda.

\Luiz Vianna

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